25/09/08

01/09/08

«Aquele Querido Mês de Agosto»


O que é que acontece quando um filme põe em causa os limites entre a ficção e o documentário? Uma salva de aplausos em Cannes é só uma das consequências. O novo filme de Miguel Gomes conseguiu a proeza e promete repeti-la a cada exibição. Depois de uma série de curtas-metragens e do filme, A Cara que Mereces, o realizador transforma uma história sobre uma família de músicos (onde a música ligeira portuguesa está em destaque) que tocam de aldeia em aldeia durante o mês de Agosto numa reflexão em mis-en-âbime sobre o que é o cinema, os seus limites e o modo como ele próprio se observa. Para isso, contou com uma série de não-actores, que precisamente por não o serem, acrescentam ao filme uma nova reflexão sobre a condição de autor. O pano de fundo é o Portugal profundo, as personagens que o compõe são aquelas que o habitam e por isso aquelas que melhor o compõem. O realizador justifica assim a entrada no documentário na ficção: "Documentário? Ficção? A meio deste filme vemos uma ponte: a ponte romana de Coja sobre o rio Alva, da qual se atira Paulo ´Moleiro´. Sem querer parecer Confúcio, diria que de qualquer uma das margens que esta ponte une se avista perfeitamente a outra. E que o rio é sempre o mesmo".